Quando falamos em Budismo, estando no mundo ocidental, não temos a noção exata do que é a religião e de que é sim uma religião de fato e não apenas uma idéia filosófica ou mais uma seita religiosa. Hoje, aqui na China, aprendi e senti um pouco do que realmente é o budismo e como as pessoas que o praticam buscam a paz, a bondade e o equilíbrio. Como religião e filosofia caminham juntas, elas se entrelaçam com certeza!
Já visitei alguns templos budistas muito interessantes em termos arquitetônicos, filosóficos e conceituais. Mas, aí é que está: esse era o meu olhar para um templo budista e sua religião. Mas, hoje estive em um lugar muito especial e interessante que gostaria de dividir com vocês.
Minha professora de mandarim passou em frente a uma pequena loja e viu uma placa onde se lia "Cultura". Olhou, gostou e resolveu me levar lá. O que ela não sabia, apenas por olhar, é que o lugar era um templo sagrado "privado".
Ela agendou com o proprietário e lá fomos nós. Fomos bem recebidas em um lugar que parecia uma galeria de artes, com várias obras budistas. No momento em que adentrávamos o local, nosso anfitrião começou a nos explicar sobre as primeiras esculturas, nos fez algumas perguntas sobre gostarmos de cultura chinesa e então nos levou para tomar um chá.
Conforme ele nos contou, no oriente você recebe as pessoas na sua casa com uma cerimônia do chá. Mas, foi logo se adiantando e frisando que não é qualquer cerimônia do chá, como as que temos nas casas tradicionais de chá espalhadas pela cidade. É um ritual, uma questão de compartilhar. E mais... o chá na cultura budista mostra e mede o respeito que você tem com seu convidado. Você o reverencia e o homenageia no preparo do melhor chá que você possa comprar. Não importa o valor monetário final deste chá, mas o quanto ele custou para você, relativamente ao que suas 'posses' te permitam comprar. E assim você inicia, após uma prece.
Aos poucos ele nos deu a dimensão que aquele lugar não era o que meus olhos estavam vendo. Não era, plasticamente falando, um local com esculturas em exposição, mas tinha muito mais ali. À medida que ele nos contava como deveria ser o coração de um budista, o respeito, a abertura ao outro, a homenagem ao seu semelhante que ele prestava com aquela cerimônia do chá, aquele local se transformava em um templo sagrado.
O que eu aprendi hoje foi que o Japão, que é um país em que o budismo é uma das principais religiões, ainda mantém muito forte a tradição raiz da cerimônia do Chá, mesmo com a modernização da sociedade. A questão do compartilhar, do respeitar e homenagear o semelhante ainda está lá, mesmo dentre os mais jovens. Ele me contou que, por questões históricas, nem a China mantém mais essa essência tão forte, embora ainda exista sim o costume de se consumir socialmente o chá, em reuniões de amigos e mesmo em casa como manda a tradição. O que está se perdendo é a essência.
Quando se prepara o chá, a primeira xícara sempre vai para Buda, juntamente com um copo de água pura. Só depois os demais convidados são servidos, num ambiente de calma e harmonia. Se você estiver estressado, vá preparar, com toda a calma do mundo, um chá para limpar seu coração, abrir sua mente e clarear seus pensamentos!
A história do Chá teve início há 5000 anos atrás, quando um imperador chinês, Shen Nong, repousava embaixo de uma árvore, durante uma viagem. Seus empregados haviam fervido água para que ele bebesse. Foi quando uma folha caiu nesta água e mudou a coloração e o sabor da bebida. O imperador gostou tanto que passou a colocar folhas na água fervendo. Nasceu, aí, o chá!
Que possamos recuperar a essência de nossas bebidas e dos significados dos rituais, das reuniões entre amigos. Que possamos brindar mais à vida, ao outro e ver além do que nossos olhos enxergam.